quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Racionalismo burguês x sustentabilidade


Com a queda do império romano, políticos e grandes generais tomaram posse das terras do antigo império sobre as quais tinham influência. Com o auxílio de seus exércitos, começaram-se a se constituir nessas terras sociedades segmentadas em dois principais estamentos - os senhores e os servos. Inicia-se o feudalismo. A evolução do sistema feudal deu origem às primeiras monarquias, as quais eram constituídas por uma aristocracia rica em valores familiares, históricos e de tradições, sustentadas por um povo de baixo nível cultural e de índole servil. Nesse período, com o restabelecimento das grandes rotas de comércio entre europa e ásia, começam a se formar cidades comerciais fora dos reinos, conhecidas como burgos. Nesses locais aconteciam as grandes feiras da idade média, onde a troca de mercadorias e o comércio começava a enriquecer os mais astutos negociantes. Estes, por sua vez, começaram a se destacar dos demais pelo seu enriquecimento, dando origem a uma nova classe social - a burguesia. Segundo relatos de historiadores, os burgueses mais endinheirados começaram, nesta época, a desenvolver um comportamento imitatório da aristocracia criando uma cultura que perdura até hoje. Se o nobre encomendava um veludo para uma túnica, ou contratava um mestre sapateiro para fazer um refinado sapato, porquê o burguês endinheirado não poderia também?

Surge nesse período o grande impasse da nossa sociedade - o comportamento imitatório da burguesia pobre em valores imateriais como afeto, tradição e cultura em relação à uma aristocracia que já possuía pelo menos 1.000 anos à frente dos burgueses na construção de valores e tradições. Se o nobre bebia vinho num cálice de ouro, era porque havia um mito, um ritual, um valor simbólico envolvido neste ato. De um modo geral, o burguês comprava um cálice de ouro para beber vinho simplesmente porque o nobre assim o fazia. Esse comportamento, vivo até hoje em nossa sociedade, literalmente destitui valores imateriais envolvidos na cultura da aristocracia - criando uma noção material e instrumental da felicidade, solidificando uma cultura de subjetividade extremamente precária. Tudo isso motivado por uma questão de diferenciação social (a aristocracia sempre foi muito assídua na criação de tradições para destacar-se socialmente).

Eu acredito que a nossa sociedade hoje precisa ser educada para entender que o racionalismo buguês desmonta as possibilidades da construção de um mundo realmente sustentável. Sabe-se que nas economias existem hoje recursos financeiros suficientes para se reconstruir o mundo inúmeras vezes. Sabe-se também que nunca houve tanta concentração de renda nas mãos de tão poucos. Por quê então esse dinheiro não está sendo utilizado na construção de um mundo sustentável? Simplesmente porque não se conhecem os valores imateriais necessários para que esse fluxo de recursos aconteça. O racionalismo burgês nos leva a considerar só o retorno financeiro, enquanto o retorno de um investimento em sustentabilidade não só existe como vem de forma indireta, e em várias outras moedas além do dinheiro.

Outro fato curioso é que, em todas as sociedades minimamente civilizadas, sempre existiam regras sobre o direito de propriedade. E de maneira complementar a ele, as regras que disciplinavam o direito de sucessão e de herança. Em todos os regimentos, desde os mais antigos, o direito de sucessão e herança nunca envolvia só direitos, mas principalmente os deveres. É neste ponto que a reflexão se torna mais delicada. É comum eu ouvir de pessoas minimamente aculturadas que possuem um grande patrimônio material e financeiro o discurso melancólico de não saber o que vai deixar pros filhos e pra sociedade que tenha um real significado. Isso se deve ao fato de que nossa sociedade capitalista/burguesa/cristã simplesmente não consegue entender e nem ensinar às futuras gerações (as sucessoras) os valores relacionados aos deveres da herança, principalmente os relacionados aos bens de direito difuso. Em todo contrato civil, por exemplo, há sempre uma cláusula versando sobre os deveres de seus herdeiros e sucessores perante o contrato. Prestem atenção nisto.

É aqui que está a mudança que todos sabem que destá por acontecer mas não sabem quando, nem onde, nem como e nem porquê. Ela aparece nos discursos dos grande líderes, mas sempre sem substância, meio sem sentido, sem hora pra começar. Um mundo sustentável vai partir da cabeça dos bem sucedidos financeiramente, que sabem que o dinheiro se fabrica facilmente pois a métrica para se determinar o retorno acontece tudo em uma única moeda esua origem parte das idéias. Invesitir em educação, cultura e um meio ambiente saudável é muito mais difícil de medir o retorno (é praticamente impossível), mas de fato ele existe e é fabuloso. Está na hora de arriscar, cada um fazendo sua parte.

Esse discurso faz sentido pra vocês?

Eu gostaria de fazer um especial agradecimento ao Professor Luiz Felipe Pondé, da FAAP, o qual me abriu as portas para esses pensamentos através de suas aulas e pela indicação da bibliografia.

Otávio Cafundó é biólogo, especialista em conservação, sócio-diretor da Brasil Diverso Soluções Ambientais Ltda
http://www.brasildiverso.com.br

Reflexão sobre a prosperidade

Acho essa frase incrível:

"É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade" Adrian Rogers

Otávio Cafundó é biólogo, especialista em conservação, sócio-diretor da Brasil Diverso Soluções Ambientais Ltda
http://www.brasildiverso.com.br
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...