quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Racionalismo burguês x sustentabilidade


Com a queda do império romano, políticos e grandes generais tomaram posse das terras do antigo império sobre as quais tinham influência. Com o auxílio de seus exércitos, começaram-se a se constituir nessas terras sociedades segmentadas em dois principais estamentos - os senhores e os servos. Inicia-se o feudalismo. A evolução do sistema feudal deu origem às primeiras monarquias, as quais eram constituídas por uma aristocracia rica em valores familiares, históricos e de tradições, sustentadas por um povo de baixo nível cultural e de índole servil. Nesse período, com o restabelecimento das grandes rotas de comércio entre europa e ásia, começam a se formar cidades comerciais fora dos reinos, conhecidas como burgos. Nesses locais aconteciam as grandes feiras da idade média, onde a troca de mercadorias e o comércio começava a enriquecer os mais astutos negociantes. Estes, por sua vez, começaram a se destacar dos demais pelo seu enriquecimento, dando origem a uma nova classe social - a burguesia. Segundo relatos de historiadores, os burgueses mais endinheirados começaram, nesta época, a desenvolver um comportamento imitatório da aristocracia criando uma cultura que perdura até hoje. Se o nobre encomendava um veludo para uma túnica, ou contratava um mestre sapateiro para fazer um refinado sapato, porquê o burguês endinheirado não poderia também?

Surge nesse período o grande impasse da nossa sociedade - o comportamento imitatório da burguesia pobre em valores imateriais como afeto, tradição e cultura em relação à uma aristocracia que já possuía pelo menos 1.000 anos à frente dos burgueses na construção de valores e tradições. Se o nobre bebia vinho num cálice de ouro, era porque havia um mito, um ritual, um valor simbólico envolvido neste ato. De um modo geral, o burguês comprava um cálice de ouro para beber vinho simplesmente porque o nobre assim o fazia. Esse comportamento, vivo até hoje em nossa sociedade, literalmente destitui valores imateriais envolvidos na cultura da aristocracia - criando uma noção material e instrumental da felicidade, solidificando uma cultura de subjetividade extremamente precária. Tudo isso motivado por uma questão de diferenciação social (a aristocracia sempre foi muito assídua na criação de tradições para destacar-se socialmente).

Eu acredito que a nossa sociedade hoje precisa ser educada para entender que o racionalismo buguês desmonta as possibilidades da construção de um mundo realmente sustentável. Sabe-se que nas economias existem hoje recursos financeiros suficientes para se reconstruir o mundo inúmeras vezes. Sabe-se também que nunca houve tanta concentração de renda nas mãos de tão poucos. Por quê então esse dinheiro não está sendo utilizado na construção de um mundo sustentável? Simplesmente porque não se conhecem os valores imateriais necessários para que esse fluxo de recursos aconteça. O racionalismo burgês nos leva a considerar só o retorno financeiro, enquanto o retorno de um investimento em sustentabilidade não só existe como vem de forma indireta, e em várias outras moedas além do dinheiro.

Outro fato curioso é que, em todas as sociedades minimamente civilizadas, sempre existiam regras sobre o direito de propriedade. E de maneira complementar a ele, as regras que disciplinavam o direito de sucessão e de herança. Em todos os regimentos, desde os mais antigos, o direito de sucessão e herança nunca envolvia só direitos, mas principalmente os deveres. É neste ponto que a reflexão se torna mais delicada. É comum eu ouvir de pessoas minimamente aculturadas que possuem um grande patrimônio material e financeiro o discurso melancólico de não saber o que vai deixar pros filhos e pra sociedade que tenha um real significado. Isso se deve ao fato de que nossa sociedade capitalista/burguesa/cristã simplesmente não consegue entender e nem ensinar às futuras gerações (as sucessoras) os valores relacionados aos deveres da herança, principalmente os relacionados aos bens de direito difuso. Em todo contrato civil, por exemplo, há sempre uma cláusula versando sobre os deveres de seus herdeiros e sucessores perante o contrato. Prestem atenção nisto.

É aqui que está a mudança que todos sabem que destá por acontecer mas não sabem quando, nem onde, nem como e nem porquê. Ela aparece nos discursos dos grande líderes, mas sempre sem substância, meio sem sentido, sem hora pra começar. Um mundo sustentável vai partir da cabeça dos bem sucedidos financeiramente, que sabem que o dinheiro se fabrica facilmente pois a métrica para se determinar o retorno acontece tudo em uma única moeda esua origem parte das idéias. Invesitir em educação, cultura e um meio ambiente saudável é muito mais difícil de medir o retorno (é praticamente impossível), mas de fato ele existe e é fabuloso. Está na hora de arriscar, cada um fazendo sua parte.

Esse discurso faz sentido pra vocês?

Eu gostaria de fazer um especial agradecimento ao Professor Luiz Felipe Pondé, da FAAP, o qual me abriu as portas para esses pensamentos através de suas aulas e pela indicação da bibliografia.

Otávio Cafundó é biólogo, especialista em conservação, sócio-diretor da Brasil Diverso Soluções Ambientais Ltda
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Reflexão sobre a prosperidade

Acho essa frase incrível:

"É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade" Adrian Rogers

Otávio Cafundó é biólogo, especialista em conservação, sócio-diretor da Brasil Diverso Soluções Ambientais Ltda
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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O agente da sustentabilidade


Acredito que todos de nossa sociedade gostariam de um mundo mais justo, mais saudável e mais aprazível de se viver. Principalmente em se tratando de um modelo de mundo mais abundante em recursos. Pelo menos é isso que dizem os jornais, e o que as pessoas falam. E é por isso que eu resolvi escrever esse post, para responder à uma pergunta fundamental: Como é possível construirmos a sustentabilidade?

É muito comum as pessoas me questionarem sobre isso, afinal, vivemos num mundo mergulhado numa cultura de pessimismo socioambiental ao mesmo tempo em que passamos por um processo intenso de individuação - ou seja, cada vez mais as pessoas precisam se afirmar como indivíduos. Isso causa muito mal-estar. É nesse contexto que surge a preocupação pela sustentabilidade - vista na maioria das vezes como uma simples oportunidade de negócio. Infelizmente, a demanda por uma sustentabilidade vista como uma oportunidade e não também como uma necessidade surge devido à nossa "cultura do Narcisismo", repleta de materialismo e de subjetividade precária. Uma cultura onde as pessoas são carentes e só querem sugar, e não conseguem dar.

Construir a sustentabilidade é uma tarefa árdua, e por isso é facilmente interpretada na nossa sociedade como fator de diferenciação. Cabe ressaltar, no entanto, que a sustentabilidade não é só um prato cheio para o marketing; ela é de fato uma grande oportunidade de negócio, especialmente se ela for entendida como necessária. Quem entender isso conseguirá usufruir de um tipo de retorno que vai muito além do financeiro, e que pode significar a perenindade de seus propósitos e ideais, dando mais sentido à sua existência.

Sustentabilidade é fundamentalmente um processo de valorização do ser humano. Quando o ser humano consegue entender e assumir sua responsabilidade como indivíduo (ou seja, único, indivisível), ele passa a atuar como um agente de mudança de seu meio, auto-motivado, a partir de seu repertório de valores. Valores fundamentais como sua saúde e felicidade, a de sua família, de seus amigos, de seu grupo social. Isso só se alcança por meio da educação, que é um processo caro e demorado.

Sustentabilidade é um tema tão significante, que faz até mesmo com que alguns indivíduos se sintam fracassados como indivíduos, mesmo sendo pessoas extremamente bem sucedidas do ponto de vista financeiro. Esse entrave é criado pela cultura heróica do narcisismo moderno: as pessoas querem se vender como pessoas felizes e auto-suficientes não só do ponto de vista material mas também do ponto de vista de seu ser - na forma de uma personalidade, um comportamento ou um estilo de vida. É aqui que entra a grande questão - se a construção da sustentabilidade é um processo árduo e complexo (não se constrói da noite para o dia), o indivíduo acaba colidindo com o imediatismo de sua cultura materialista e se frustra, lançando-se a um estado de melancolia. A partir desse desse ponto, ou ele reage, ou ele se conforma.

Os ignorantes e os conformistas abraçam sua felicidade material-financeira. Os reativos, abrem mão, de certa forma, de valores materiais e pensam na coletividade, partindo de um amar a si próprio. Amar a si não num sentido egoísta, mas num sentido individualista - que valoriza o indivíduo como entidade. Ele passa a se cuidar e entende que o estar bem é o primeiro passo para se fazer o bem. E o estar bem, significa, necessariamente, cuidar de seu meio e das pessoas que o cercam.

A sua lógica se encaixa em algum desses modelos?

Otávio Cafundó é biólogo, especialista em conservação, sócio-diretor da Brasil Diverso Soluções Ambientais Ltda
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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O maior dos luxos

Esse é o maior dos luxos. Família, amigos e uma casa arrumada... O cerne da sociedade.

Casa arrumada - Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:
Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,
passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos...
Netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias...
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
E reconhecer nela o seu lugar.

Otávio Cafundó é biólogo, especialista em conservação, sócio-diretor da Brasil Diverso Soluções Ambientais Ltda
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Uma mudança de lugar

Para se entender sustentabilidade, é preciso entender, em primeiro lugar, de que lugar interpretamos o mundo. A maioria acredita que o herdamos de nossos pais. Na verdade, devemos entender que estamos é tomando ele emprestado de nossos filhos. Aí sim: não importa o que recebemos, o que importa é o que vamos deixar.

Otávio Cafundó é biólogo, especialista em conservação, sócio-diretor da Brasil Diverso Soluções Ambientais Ltda
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Sustentabilidade x luxo

O investimento num projeto de sustentabilidade traz, num primeiro momento, retorno moral, que se reflete na imagem e na reputação do investidor. Um projeto desse tipo é, necessariamente, calçado pela verdade. O retorno financeiro, no entanto, deve ser entendido como um subproduto, pois ele só aparece com o tempo e de forma indireta.

O que acham dessa minha conclusão? Sustentabilidade é um luxo?


Otávio Cafundó é biólogo, especialista em conservação, sócio-diretor da Brasil Diverso Soluções Ambientais Ltda
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Uma mudança de lugar

Hoje vejo que muitos de meus clientes, que há 5 anos atrás estavam preocupados com o futuro de seus filhos e netos estão começando a ficar preocupados com o futuro deles mesmos... Você sente o mesmo?

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sábado, 9 de abril de 2011

Capitalismo stricto-sensu

O capitalismo tem se mostrado um sistema econômico muito eficiente, pois tem o seu funcionamento baseado em leis ecológicas. O mais forte sobrevive. Só que o jargão do “capitalismo selvagem”, que antes insinuava a irracionalidade capitalista em busca do lucro, hoje dá a ele o sentido da vida – o capitalismo está passando a se sustentar sobre pilares não só econômicos, mas balanceando-se entre os pilares social, ambiental, econômico, ético, político e cultural – ou seja, está se tornando natural. Capitalismo, como o próprio nome diz, faz referência ao o uso da cabeça (do latim = capita) para o acúmulo daquilo que é fruto do uso da cabeça - o dinheiro (ou capital).


A Brasil Diverso desenvolve, através da metodologia mundialmente consagrada The Natural Step, um trabalho de entrelaçamento desses valores em prol da geração de valor sustentável. Visamos incorporar nas empresas a filosofia do lucro ótimo e responsável, buscando sua inserção num círculo virtuoso de comércio não só sustentável, mas também sustentante, criando e disseminando valor em toda a sua cadeia de relacionamentos. Este trabalho é desenvolvido com foco em pessoas, visando não só analisar as razões mais básicas do ser da empresa, mas também buscando obter o consenso de objetivos. Este enfoque leva ao angajamento e à motivação pelo trabalho, com um propósito comum, potencializando de maneira espantosa o conhecimento e as habilidades de cada indivíduo, fazendo com que as soluções mais brilhantes para os problemas do dia-a-dia apareçam.


Otávio Cafundó é biólogo, especialista em conservação, sócio-diretor da Brasil Diverso Soluções Ambientais Ltda
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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Technology as a Service

Já é realidade um novo conceito de produção no mundo globalizado. Ecodesign, logística reversa e as "disassembling lines" são as novas extensões agora obrigatórias às linhas de produção, principalmente em se falando de bens de alta tecnologia.

O conceito dos 7 "R"s - repense, recuse, reduza, repare, reutilize, recicle e reintegre - ganha muito mais sentido quando entendemos o conceito real de reciclagem. Reciclar nada mais é do que reintroduzir um material de volta a algum ciclo. O problema é que o conceito é um pouco mais amplo - se um material deve voltar a um ciclo, este deve ser planejado e concebido para que ele possa voltar infinitas vezes ao ciclo. E a solução para este impasse quem traz é o design. Se os produtos são projetados não só para o uso, mas para também serem retornáveis, desmontados e seus componentes reciclados, temos um ciclo eco-efetivo, e não eco-eficiente. Imaginem só, um produto pode não só ser reciclado a ponto de ser transformado num bem da mesma categoria (reciclagem efetiva), como também pode ter sua matéria utilizada na produção de bens de maior valor agregado - o que é chamado, no inglês, de upcycling. Toda vez que um determinado material perde valor durante um processo de reciclagem, estamos fazendo um downcycling.

Essa nova concepção de produção, que cria bens projetados para serem desmontados e reintroduzidos em ciclos tecnológicos e/ou biológicos, permite a criação de um novo conceito - a de produto como serviço. Na internet já existem milhares de aplicativos de produtividade "web-based" conhecidos pela sigla SaaS, ou Software as a Service. Agora, muitos produtos oriundos desse novo modelo de produção já são recolhidos, desmontados e reaproveitados na produção de novos produtos de igual ou maior valor agregado, reduzindo drasticamente as necessidades da indústria por matéria-prima. Num futuro não muito distante, o "upgrade" de seu computador ou aparelho de televisão por um modelo mais moderno poderá ser conseguido através de uma empresa de prestação de serviços de aluguel. O modelo de produção está passando a ser um modelo de utilidade, já batizado como TaaS, ou Technology as a Service.

No TaaS, sempre que o conhecimento humano permitir a colocação em prática de uma nova tecnologia, a tecnologia antiga poderá ser recolhida e sua matéria-prima utilizada na confecção da nova. O embrião desse conceito já bate à nossa porta - a logística reversa. O que para muitos ainda é considerado lixo, para as empresas de ponta, é matéria-prima. Observem os anúncios do tipo"na compra de um sofá novo, ganhe um desconto entregando o seu velho" ou "sua impressora vale até R$ 200,00 na compra de uma nova". Já é possível, portanto, imaginarmos um novo modelo de negócios baseado em um consumo de bens como um serviço - onde você aluga uma televisão ou um PC, e sempre que uma nova tecnologia superar a do seu equipamento, você terá o seu bem substituído por um mais moderno e eficiente.

Bem vindo ao mundo TaaS.

Otávio Cafundó é biólogo, especialista em conservação, sócio-diretor da Brasil Diverso Soluções Ambientais Ltda
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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

usuário-pagador x devolvedor-recebedor

Hoje vejo que muitos de nossos clientes, que há 5 anos atrás estavam preocupados com o futuro de seus filhos e netos estão começando a ficar preocupados com o futuro deles mesmos. É uma situação um tanto estranha, internalizar uma preocupação difusa entre gerações. A sensação do tempo que existia para buscarmos uma resposta de mudança de modelo civilizatório-econômico está tão curta a ponto de se transformar-se numa sensação de incapacidade e castração, a qual força uma intensa reflexão e uma angústia por atitude. Isso é muito bom, porém com as dificuldades provocadas pelo choque entre gerações na construção de um diálogo e na canalização dessa "energia enrustida" em ações promissoras. Um acordo nesse diálogo leva tempo para acontecer, mas já existem sinais de que ele começa a tomar forma.

Nós da Brasil Diverso estamos começando a perceber que as soluções para o desenvolvimento estão aparecendo não só através do efeito da experiência de vida das gerações mais maduras(ou seja, que custaram muito tempo e muito dinheiro para aparecerem) mas também pelo milagre da colaboração digital, trazido pelo consciente coletivo conectado, através das gerações mais jovens. É nessa troca onde o novo ouro aparece - soluções efetivas que criam informações estratégicas que geram valor através da reputação. Complicado?

Os baby-boomers, ou geração X, detentores do poderio econômico e político mundial, têm no topo de suas ambições em primeiro lugar o lucro, depois a minimização dos riscos, e por último, a melhoria de sua imagem/reputação. Já no mundo conectado, imagem e reputação vêm em primeiro lugar. Cada cidadão hoje tem o poder de se portar como um sócio, um cliente e um fiscal da atuação das empresas. As pessoas funcionam como agentes de controle que observam e reagem ao balanço da estrutura jurídica de nosso modelo de sociedade, nos quais as empresas são o centro. Existem 4 princípios jurídicos que sustentam essa estrutura: princípio do desenvolvimento sustentável, princípio da prevenção-precaução, princípio da participação, e o princípio do poluidor-pagador/usuário-pagador. Esse tetraedro que fundamenta o nosso direito, no entanto, ainda mostra-se insuficiente para garantir a viabilidade do princípio-base - o do desenvolvimento sustentável. As incompletudes conceituais dos demais princípios ferem o desenvolvimento sustentável no momento em que o sistema opera. Quando os pilares pendem, a estrutura dessa pirâmide se abala, e o princípio-base é afetado. É aqui que entra o papel da colaboração em rede, através da reação a partir da informação. E é essa reação que induz a mudança de paradigmas que adotamos em nossas vidas, e provocam a abertura para o diálogo entre as gerações. Meio ambiente é o tema mais conflituoso nas recentes discussões sobre desenvolvimento, por um simples fato - é dele que a economia e a sociedade dependem e se sustentam. Neste contexto, o principal princípio jurídico em vigor que engloba o "modus operandi" do paradigma desenvolvimentista, é o do poluidor-pagador/usuário-pagador. Em meu modo de ver, o ponto de acordo neste diálogo aparece na forma de uma nova tendência - a da mudança do modelo poluidor-pagador/usuário-pagador para um modelo desenvolvimentista usuário-multiplicador/devolvedor-recebedor. Aparentemente, é aqui onde estamos modelando uma chave para um futuro de abundância.

A origem desse raciocínio foi curiosa. Em uma conversa sobre a questão do uso da natureza para fins lucrativos com um grande amigo ecólogo, fui implicado de uma maneira muito interessante:
- "Otávio, quantas sementes produz uma árvore, hipotética, ao longo de sua vida?"
- Não sei. Talvez milhares. Talvez milhões, respondi.
- "Pois é... e quantas dessas você acha que um dia se tornarão árvores adultas e produzirão tantas sementes como esta nossa árvore hipotética?"
- "Poucas. Quem sabe até algumas poucas dezenas".
- "E o que você acha que aconteceria com a espécie caso colhêssemos uma porção dessas sementes todos os anos, para que pudéssemos utilizá-las em nosso benefício?"
E pensei:
- Nada. Mas acho que há um limite essa colheita.
- Pois é, existe sim um limite. Mas lembre-se que o que você tem em mãos, são SEMENTES.

Foi uma bela lição. Sob essa nova ótica, a noção de multiplicação de produtos e serviços naturais aliada à noção de reciclagem, está possibilitando a diminuição do uso de matéria-prima de origem natural, como é o caso do aço. Praticamente 80% de todo aço utilizado no Brasil é reciclado. E se além de não mais retirar da natureza se faça possível multiplicar e repor de alguma forma (por exemplo, fazendo a restauração ecológica de áreas degradadas em conjunto com trabalhos sociais direcionados) é possível tirar estrategicamente muito proveito dos resultados desses projetos através das informações geradas nesse processo, criado por uma demanda civil cada vez mais qualificada. Em nossa experiência de atuação, é com esse tipo de trabalho que temos obtido êxito, auxiliando na modelagem da reputação de nossos clientes e agregando valor no negócio, e aumentando os lucros. Além disso, antecipa-se à Lei. Não há leis para quem não polui. Pelo contrário, há incentivos e bons negócios para quem produz água limpa, planta árvores ou produz organicamente. Essa já é uma nova realidade.

Otávio Cafundó é biólogo, especialista em conservação, sócio-diretor da Brasil Diverso Soluções Ambientais Ltda
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sexta-feira, 26 de junho de 2009

Introdução ao cálculo de emissões pessoais de carbono

A introdução ao cálculo de suas emissões pessoais de CO2 é aqui apresentado basicamente para os meios de transporte mais utilizados - automóvel, ônibus e avião.

Cada combustível utilizado possui diferentes teores de carbono e o rendimento é inversamente proporcional à potência. A maneira como o motorista dirige também influi muito no consumo. O cálculo das emissões por carro de passeio é como se houvesse somente um passageiro, já os ônibus foram considerados 30 passageiros e nos aviões, o Boeing 737 (trechos São Paulo – Rio de Janeiro e São Paulo-Salvador) com uma capacidade em torno de 150 passageiros e o Boeing 777 (trecho São Paulo-Paris) com uma capacidade de 270 passageiros e com, entretanto, uma taxa de ocupação média de 70% dos assentos por vôo. As estimativas foram calculadas levando em consideração diferentes consumos durante a decolagem, velocidade de cruzeiro e pouso para cada trecho com especificações do modelo da aeronave.

O calculo anual leva em consideração a distância percorrida por dia multiplicado por 365 dias/ano. O cálculo das emissões são, convencionalmente, apresentados na unidade de massa de gás carbônico e não de carbono somente (C). Por isso é necessária a conversão de massa de C para massa de CO2. A massa do CO2 é cerca de 44, e a do Carbono é igual a 12, logo, o fator de conversão de C para CO2 será igual a 44/12 = 3,6.

Massa do carbono =12
Massa do oxigênio = 16
Massa de CO2 = 12 + (2 x16); ou seja 44.

Ou seja, cada tonelada de carbono queimada é convertida em 3,6 toneladas de CO2.

O cálculo para estimar a emissão realizada por uma pessoa, parte da seguinte equação:

Automóvel:
Emissões (kg de CO2) = CC x DP x DC x TC x 3,6

Ônibus:
Emissões (kg de CO2) = CC x DP x DC x TC x 3,6 / NP

Avião:
Emissões (Kg de CO2) = CC x TC x 3,6 / NP x TO

CC = Consumo de combustível (L/Km) ou massa de combustível consumida por viagem (avião).
DP = Distância percorrida (Km)
DC = Densidade do combustível (Kg/L)
TC = Teor de carbono no combustível (%)
NP = Número de passageiros
TO = Taxa de ocupação dos assentos


Esse cálculo é feito para cada tipo de transporte. A soma dos três á apresentado no resultado total da calculadora.

Para simplificar o cálculo é elaborado um fator de emissões para cada “potência do motor/tipo de combustível” e meio de transporte. Esse fator é uma taxa média de emissão de CO2 por pessoa por quilometro percorrido, denominado pkm, massa de CO2 emitida por quilômetro percorrido por pessoa.

No caso da viagem de avião, a estimativa das emissões é simplificada, com apenas as emissões em três classes de distância percorrida. O trecho Rio de Janeiro – São Paulo possui cerca de 500 quilômetros para ida e volta; São Paulo – Salvador, com 1450 quilômetros para ida e volta e o trecho São Paulo - Paris com cerca de 9400 quilômetros para ida e volta. Nesse caso, o total é dado por viagem, por isso é preciso adaptar quaisquer outros trechos para esses três estudos de caso. Se uma pessoa fez um outro trecho, é preciso que se escolha um ou mais trechos estudados para que, comparativamente, possa se calcular as emissões de um vôo. De qualquer maneira todos estes cálculos são apenas especulativos, pois existem diversos fatores que influenciam a estimativa. O tipo de aeronave, taxa de ocupação do avião (passageiros e carga), direção e força do vento, dentre outros fatores.

Através do fator pkm o cálculo pode então ser feito diretamente através do produto da distância pelo fator de emissão.


CARRO DE PASSEIO

* Já computados os 20% de álcool na gasolina

ÔNIBUS


VIAGENS AÉREAS

* Com uma taxa de ocupação de 70%

Especificações químicas da composição dos principais combustíveis utilizados atualmente: várias tabelas * - Considerados combustíveis limpos, pois são renováveis, ou seja, não são contabilizados como emissões de Gases de Efeito Estufa.

Estoque de carbono em árvores.

Uma árvore, através da fotossíntese, retira gás carbônico da atmosfera convertendo-o em açúcar através da reação abaixo:

CO2 + H2O + luz solar = C6H12O6 + O2

Nesse processo o vegetal utiliza água e energia solar para converter as moléculas do CO2 atmosférico em moléculas de alta energia para ser utilizado em seu metabolismo e crescimento de sua estrutura. O aumento do volume de uma árvore nada mais é do que o acúmulo de madeira na sua estrutura. A madeira de uma árvore, genericamente, possui uma porcentagem de água que varia de 25 a 40% e da biomassa seca restante o teor de carbono é de cerca de 50%. As demais substâncias químicas presentes na madeira são, de uma maneira geral, Hidrogênio, Nitrogênio, Oxigênio e Fósforo – não contabilizados como formadores de gases de efeito estufa neste estudo.

Existem também diversas qualidades de madeira no que tange a quantidade de biomassa por volume, expresso pela densidade das madeiras, popularmente conhecidas como “madeira branca” e “madeira de lei” ou “toras com cerne”. Essas denominações refletem a dureza e a quantidade de celulose por volume de madeira, sendo as madeiras de lei extremamente duras e pesadas, geralmente utilizadas para embarcações, telhados e outros usos que se desejam uma durabilidade maior. As “madeiras brancas” são geralmente de espécies de árvores com rápido crescimento, baixa densidade e muitas vezes não apresentam valor comercial elevado. Essas madeiras podem ser utilizadas para diversos utensílios domésticos (rodos, vassouras, móveis de baixo valor de mercado, madeira aglomerada) ou mesmo para formas de concreto na construção civil.

Para efeitos da “Calculadora de CO2” é preciso estabelecer uma árvore hipotética que atingirá uma certa estrutura que acumulou toda a sua emissão de CO2 calculada através da fotossíntese.

É necessário entender que uma árvore cresce muita mais lentamente que as nossas emissões, por isso o que foi calculado para um ano de nossas vidas será convertido em biomassa de uma árvore em um tempo muito maior. Foi considerado que uma árvore será plantada e acompanhada por um tempo de cerca de 20 anos. É impossível estimar precisamente quanto de CO2 uma árvore é capaz de absorver neste tempo, as variáveis são inúmeras: a espécie plantada, a fertilidade do solo, temperatura do ambiente, quantidade e distribuição da chuva ao longo do ano, doenças, predadores, densidade do plantio (um reflorestamento geralmente possui de 1000 a 2000 mudas por hectare), luminosidade, dentre outros fatores.

A árvore hipotética considerada:

Para efeitos de simulação pode-se considerar que uma árvore em boas condições de plantio pode atingir em 20 anos uma altura de cerca de 16 m, com cerca de 28 cm de diâmetro. A madeira desta árvore considerada possui uma densidade de 0,48 g/cm3 e um teor de carbono de 50%. Não descontamos o teor de água, pois já esta incluído na variável densidade que, neste caso, é calculada em termos de massa de madeira seca por unidade de volume, ou seja, contabiliza-se a massa seca de madeira pelo volume da árvore viva (na natureza ou reflorestamento).

O cálculo é feito desta forma:

Carbono na árvore = AB x H x DB x TC x FFA

Onde:

AB = Área Basal da árvore (m2); estimado a partir de dados de campo medido em termos de diâmetro da árvore, convertidos para metros.
H = Altura total da árvore (m);
DB = Densidade básica (massa de madeira seca / volume da madeira fresca; kg/m3);
TC = Teor de carbono, no caso de madeiras, genericamente considerado em 50% da biomassa seca;
FFA = Fator de forma arbóreo; pois uma árvore não é um cilindro, é na verdade um cone com a expansão dos galhos da copa. Este fator é calculado experimentalmente.

Desta forma a nossa árvore hipotética terá:

Carbono na árvore = (0,28m/2)2 x Pi x 15(m) x 0,5 (ton/m3) x 0,5 (%) x 0,72

Carbono na árvore = 598,5 ou seja 166 kg de C ou 598 kg de CO2.

As árvores devidas são calculadas a partir da divisão do total de CO2 emitido pelo CO2 equivalente retido na biomassa desta árvore hipotética.

Abaixo uma tabela com alguns dados de densidade e estrutura de espécies adultas de Mata Atlântica (Fonte: Lorenzi, 2002):


Algumas curiosidades sobre as florestas ....

Uma floresta clímax de Mata Atlântica é capaz de estocar cerca de 400 toneladas de biomassa (madeira) por hectare (1 hectare = 100m x 100m = 10.000 m2), desta biomassa cerca da metade é carbono, isto é, 200 ton/ha. Essa massa de carbono equivalem a cerca de 720 toneladas de CO2. Um brasileiro, estima-se, emite cerca de 0,6 toneladas de CO2, logo um hectare de floresta desmatada equivalem às emissões de 1200 pessoas/ano. Considerando que uma pessoa viva 80 anos, um hectare de floresta corresponde às emissões de 15 pessoas durante a sua vida (de 0,6 toneladas de CO2/ano).

Uma árvore de grande porte, 90 cm de diâmetro por 30 metros de altura, pode estocar cerca de 6 toneladas de carbono o que corresponde a mais de 20 toneladas de CO2, o equivalente à emissões de 33 pessoas/ano. Entretanto, uma árvore deste porte leva mais de cem anos para atingir tal estrutura, assim como uma floresta leva mais de cem anos para atingir seu estágio de máxima capacidade de estocagem de carbono. Nas estimativas de estocagem não foram levadas em conta o carbono do solo, que aumenta com a maturidade de uma floresta.

Algumas alternativas para mitigar os efeitos das mudanças globais, no setor de uso do solo e florestas, são os reflorestamentos e os sistemas agroflorestais (SAF). Os reflorestamentos são capazes de retira acima de 3 toneladas de carbono por hectare/ano. Os SAFs são sistemas de produção agrícola onde, através de consórcio de árvores, arbustos e cultivos anuais, o estoque de carbono no sistema é elevado, comparado aos demais sistemas produtivos convencionais.Um SAF estudado (Rio de Janeiro) estocou o dobro de carbono de uma pastagem adjacente em 7 anos, além de gerar renda e produtos para o proprietário.

Fatores para correção na calculadora de CO2



Modificado a partir de Kenny Tanizaki

Join the Organic Rebellion !!!!

Essa produção é muito boa... Fala sobre a revolução dos produtos orgânicos e a importância de adotarmos práticas conscientes e mais saudáveis de consumo. Fiquei fã do Chewbroccoli, rs.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Reflorestamento é para sempre? Pode ser. Mas não tem sido...

Em um estudo desenvolvido pela coordenadoria de pesquisas da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, foi constatado que na maioria das áreas reflorestadas no Estado são utilizadas menos de 30 espécies de árvores (quase sempre as mesmas). Destas, dois terços possuem um ciclo de vida curto, entre 15 e 20 anos, o que tem levado as "novas florestas" ao declínio em um curto espaço de tempo.

Para chegar a esta constatação, os pesquisadores escolheram 61 áreas em recuperação que passaram a ser observadas por um período de seis meses. Do levantamento das 247 espécies utilizadas nestas áreas, verificou-se que 54%(134 espécies) foram pouco utilizadas (em apenas três projetos) e um pequeno número (15 espécies) apresentaram uma freqüência de utilização maior, acima de 50% dos projetos de reflorestamento.

A própria Secretaria do Meio Ambiente alerta que é preocupante a situação dos projetos que tem sido executados no Estado, dada a baixa diversidade e a alta consanguinidade de indivíduos (muitos indivíduos produzidos a partir de poucas árvores matrizes).

Outra observação importante feita pelos pesquisadores é que, quando o desmatamento de um único hectare retira da área no mínimo 100 espécies, a compensação ambiental muitas vezes estabelecida pelo Poder Público não chega a ser satisfatória e nem eficaz. A perda de um único hectare, cnsequentemente, não poderia ser compensado por 10 hectares de reflorestamento, como é normalmente indicado.

domingo, 2 de março de 2008

Bem-vindo ao Blog Brasil Diverso!

É com muita satisfação que recebo a sua visita em meu blog. A idéia do blog é a de reunir um corpo de informações sobre sustentabilidade, apresentando conceitos e idéias que juntas, formam uma massa crítica de conhecimento para a mudança de 3 modelos de paradigmas: de consumo, de sociedade e de economia. O blog foi pensado para ter um conteúdo estático, que aos poucos, vai sendo abastecido de novas idéias e conceitos. Espero que gostem.

Enviem críticas, dúvidas e sugestões para o e-mail: contato@brasildiverso.com.br

Visite também o nosso site: Brasil Diverso Sustentabilidade e Meio Ambiente

domingo, 11 de novembro de 2007

O que é uma OSCIP?

Existem vários tipos de organizações não-governamentais, ou ONGs. Cada uma delas tem uma constiuição jurídica diferente, mas com um propósito comum, a defesa do interesse público sem fins lucrativos. Os tipos de ONGs mais comuns são:

1) as fundações (não possuem dono, pois são criadas a partir da doação de um patrimônio que pode ser administrado e render benefícios ao interesse público. São administradas por um conselho e uma curadoria);

2)os institutos (organizações que possuem proprietários e que são constituídos por grupos de pessoas - como numa associação - mas que desenvolve e incentiva atividades correlatas às de responsabilidade do governo, tais como a educação, articulação política, pesquisa, desenvolvimento tecnológico, cultural, preservação do meio ambiente, etc.). É administrada por um conselho de administração, um presidente e uma secretaria executiva. O poder de voto dos membros pode ser diferenciado, garantindo privilégios aos fundadores;

3) as associações (organização de classes de pessoas ou etidades que se unem visando melhorar seu posicionamento mercadológico através de vantagens fiscais, organização da força de trabalho, articulação política para o desenvolvimento de seu setores de atuação - tais como uma associação de produtores rurais, associação de municípios, associações de moradores, etc.). O poder de voto dos associados pode ser diferenciado, garantindo privilégios aos fundadores;

4) as cooperativas, ou grupo de pessoas cujo objetivo comum é o de obter as as mesmas vantagens e benefícios de uma associação, porém o poder de voto de cada um dos seus integrantes é igual. Resumindo: um por todos e todos por um.

5) a OSCIP, ou Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, é uma organização de natureza privada, que possui atribuições tanto de instituto como de uma associação. É uma entidade jurídica cujo interesse público deve ser reconhecido pelo Ministério da Justiça, para que então seja possível usufruir dos incentivos fiscais, assim como ter acesso a fundos específicos para o incentivo do desenvolvimento (social, ambiental, político, cultural, tecnológico, etc). A partir de Março de 1999, o Brasil deu um grande passo para o desenvolvimento do terceiro setor através da regulamentação da Lei das OSCIPs (Lei 9790/99, versão em PDF) , a qual passou a permitir que o Terceiro Setor pudesse ter uma estrutura administrativa eficiente (como a de uma empresa - conselho de administração, presidente, diretoria executiva) e ainda pudesse obter renda (sem fins lucrativos) através de suas atividades. Esta forma jurídica passou a predominar no Brasil, sendo que muitas das antigas "ONGs", a partir de 1999, passaram sua figura jurídica (antiga denominação genérica de ONG) para a figura de uma OSCIP.

O jeitinho brasileiro...
Infelizmente, a Lei brasileira ainda deixa um tanto a desejar, pois o terceiro setor no Brasil passou a ser mal visto pelas inúmeras possibilidades de obtenção de verbas governamentais e recursos através da renúncia fiscal do imposto de renda, que pode ser revertido (até 1% do IR de pessoas jurídicas e até 6% do IR de pessoas físicas) em benefício de entidades de interesse público. Esse mecanismo permitiu que grandes empresas pudessem subsidiar o funcionamento de OSCIPs (que em alguns casos sobrevivem somente com recursos oriundos de uma única fonte empresarial) que atuassem na eliminação e na minimização de problemas de ordem difusa gerados pelas suas atividades, e que no fundo, defendem o interesse privado. É como se o governo estivesse permitindo as empresas "sujas" a possibilidade de limpar suas "bandas-podres" através de benefícios fiscais concedidos a OSCIPs que no fundo, são de propriedade privada. Não é difícil se deparar com campanhas de marketing que constantemente expõem organizações que possuem segundas intenções (às vezes, por pura ignorância de seus criadores). Essa característica das OSCIPs brasileiras ainda distorce um pouco a intenção de sua verdadeira natureza , não desmerecendo a atuação exemplar de OSCIPs que realmente lutam pelo interesse público onde o governo se vê de mãos atadas. Se entendermos como fazer um bom uso dessas atribuições legais, as OSCIPs vieram pra ficar, e pra fazer do mundo um lugar melhor pra se viver, mais igual, mais educado, mais saudável, e mais solidário.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

O quadrante de Pasteur

Extraído do site da Radiobrás (www.radiobras.gov.br)

Qual cientista foi mais importante para o avanço da humanidade: Thomas Edison, Louis Pasteur ou Niels Bohr? Uma questão difícil como essa é o que tenta responder Donald Stokes com o livro “O quadrante de Pasteur”. Nele, o autor utiliza dois eixos cartesianos para classificar as atividades de pesquisa. O eixo vertical associaria o projeto de pesquisa à sua relevância como gerador de conhecimento fundamental, aquele que leva a ciência a obter muito mais conhecimentos depois dele. O eixo horizontal é a sua relevância em termos de aplicações, econômicas ou sociais, imediatas.

Stokes propõe, na verdade, que o desenvolvimento científico não é uma coisa linear. Quando ele coloca Bohr no quadrante da relevância científica, está dizendo que as profundas teorias desse cientista na área da física e da química não tinham, obrigatoriamente, compromisso em desenvolver nada, nenhum produto, nenhum processo. Eram, simplesmente, interpretações dos fenômenos da natureza, e Bohr não conseguiu ultrapassar as fronteiras desse quadrante. No outro eixo, da relevância tecnológica, relevância da aplicação dos conhecimentos, quem está lá é Thomas Edison, com suas descobertas na área da eletricidade que acabaram gerando uma boa parte do que temos hoje no segmento. Edison tem um pouco de relevância científica, mas suas pesquisas se destacam pela utilização da ciência com perspectivas estratégicas. Ele é um inventor e usa os princípios da química e da física para inventar coisas. Não que essas coisas tenham aplicabilidade, mas ele está fornecendo um conjunto de informações e de detalhamentos, que podem ser aplicados no desenvolvimento de algum produto. Em outro quadrante está Pasteur, com as mesmas qualificações de Bohr e de Edison, mas que aplicou ao extremo os conhecimentos acumulados. Seus estudos na microbiologia, no conhecimento dos microorganismos, possibilitaram o desenvolvimento de vacinas, contribuíram, também, para o entendimento da fermentação na produção do vinho e da cerveja e aprofundaram os conhecimentos da química orgânica. Ele tinha um pouco do Bohr, do Edison e muito de aplicabilidade do conhecimento já fazendo a vacina e melhorando a produção do vinho.

O quarto quadrante, omitido por Donald Stokes devido à sua morte prematura, teve uma atenção especial quanto à resposta da sociedade frente suas necessidades que não poderiam ser supridas por quaisquer outros quadrantes. Este quadrante (em branco) foi posteriormente batizado de quadrante de Ruetsap. Novas considerações muito interessantes foram feitas por Francisco Neto, em seu artigo: "O quadrante de Ruetsap e a anti-ciência, tecnologia e inovação", que nos ajuda a compreender fenômenos sociais, científicos e tecnológicos nas áreas externas à academia. Recomendo sua leitura.

Indecisão profissional: conflito de culturas


Essa postagem interessa a todos aqueles que, nesse mundo de abundante informação, se vêem cegos frente aos verdadeiros desafios da vida.

Esse livro foi o livro que me ajudou a pensar no que fazer após a graduação, por 3 principais motivos: (1)durante o final do meu curso na UNESP de Rio Claro, muitos dos meus colegas (e eu também) começaram a sentir uma certa ansiedade e a desenvolver certos comportametos irracionais ao se depararem com o momento da decisão sobre seus respectivos destinos profissionais, o que me levou a questionar o verdadeiro papel da universidade; (2) o meu instrutor de natação, que era um cara muito inteligente, não sabia nada sobre nenhuma notícia a respeito da vida cotidiana (generalidades), como a morte de Luciano Pavarotti. Após uma breve conversa, ele me disse: "cara, se você não tivesse me falado que o Pavarotti morreu, eu não ia saber disso nunca. Porque se eu pego um jornal pra ler, ou ligo a televisão, é pra ver desgraça. Por isso eu decidi virar instrutor de natação nessa biboca, que paga o meu salário, e eu vivo tranquilo, na casa da mainha mãe, aos 30 anos de idade e de carteira assinada. Quer mais pra quê?". Daí eu pensei: pra onde estamos indo? Uma mente bem educada que abdica de seu potencial? Por qual motivo? (3) No encontro de 10 anos de formado de terceiro colegial, encontrei a menina que era a garota mais inteligente do colégio. Pergutei a ela o que havia feito da vida, e vai aí o que ela me respondeu: "Bem eu comecei a fazer viagens com crianças pra Disney, daí eu resolvi fazer turismo, mas daí eu desisti de turismo e achei que eu deveria fazer administração de empresas, mas daí eu desisti e hoje eu trabalho na loja de parafusos do meu pai, e não sei muito bem o que eu vou fazer da vida. Acho que vou voltar pros EUA e virar faxineira, pelo menos pagam bem e dá pra juntar uma graninha..."

Para os que se encontram sob a mesma situação, recomendo a leitura: "O quadrante de Pasteur" da editora da Unicamp.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Fritjof Capra ensina humildade


Em seu livro "A Teia da Vida - Editora Cultrix", Fritjof Capra, um dos mais respeitados físicos teóricos do mundo, dá lições de humildade: "A vida em constante transição gera humildade e respeito" (...) "É preciso se manter sempre preparado pra perceber e receber novos conceitos, o que nos traz a capacidade de dar um novo significado à vida". E ainda arremata, contradizendo muitos teóricos da ecologia profunda, cientistas sociais, políticos e econômicos: " Não estamos vivendo uma crise ambiental, muito menos uma crise gerencial. Para nós, seres humanos, é muito difícil entender e assumir que o problema está em nós mesmos. A maior crise que estamos vivendo é uma crise de percepção."

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Cauda Longa e o Meio Ambiente


Bom, depois de toda essa introdução, acredito que agora eu possa resumir com tranquilidade tudo que eu queria dizer numa simples frase de Chris Anderson:

"no mundo virtual, estamos cada vez mais transformando em bits o que antes era matéria"...

Vocês conseguem imaginar as implicações ambientais da difusão desse conceito em nossa sociedade? Antes de consumir, pense em bits...

Conceito da Cauda Longa - Chris Anderson

Extraído de WIKIPEDIA

O livro A Cauda Longa (do original em inglês The Long Tail) foi publicado nos EUA no final do ano passado. E é o resultado de um detalhado estudo desenvolvido por Chris Anderson, editor-chefe da revista Wired, no qual analisa as alterações no comportamento dos consumidores e do próprio mercado, a partir da convergência digital e da Internet. Trata-se da teorização de um fenômeno já existente e em virtuosa ascensão na indústria do entretenimento, que tem gerado um movimento migratório da cultura de hits para a cultura de nichos, a partir de um novo modelo de distribuição de conteúdo e oferta de produtos.

Antes da Internet, a oferta de produtos era feita única e exclusivamente através de meios físicos: um produto físico, distribuído através de um modelo de distribuição físico, exposto em lojas físicas, que atendiam os consumidores de determinada região. Nesse modelo, os custos de armazenagem, distribuição e exposição dos produtos são muito altos, o que torna economicamente viável apenas a oferta de produtos populares, para o consumo de massa. E é justamente por isso que crescemos acostumados a consumir um número reduzido de mega-sucessos; pop stars, block busters etc. Um varejista tradicional, que tem custos fixos altíssimos para manter sua loja aberta, não tem espaço nas prateleiras para ofertar um produto que não venda pelo menos algumas dezenas de exemplares todo mês. Essa é a cultura de hit.

Com o surgimento do mundo virtual, estamos cada vez mais transformando em bits o que antes era matéria. E é justamente o rompimento das barreiras físicas que torna possível a criação de modelos de negócios de Cauda Longa, em que a oferta de produtos é praticamente ilimitada, uma vez que os custos de armazenagem e distribuição digitais são infinitamente inferiores. Produtos economicamente inviáveis no modelo de hit encontram no meio digital seus consumidores. Por sua vez, os consumidores que antes tinham acesso a um número reduzido de conteúdos, passaram a ter uma variedade quase que infinita de novas opções. E passaram a experimentar mais, consumir produtos que até então desconheciam. É essa variedade e essa nova experimentação que proporcionam as alterações no consumo tradicional (Não é à toa que a geração da Internet é menos fiel às marcas e mais predisposta a consumir novos produtos).

O que antes era um mercado ignorado, não só passa a ter valor como vem crescendo a cada ano. Peguemos como exemplo o mercado de músicas digitais. Somadas, todas as centenas de milhares de músicas menos populares, de bandas menores ou desconhecidas no mainstream (novos nichos), cujas faixas vendem apenas alguns downloads ao ano na iTunes, já representam um volume de vendas equivalente ao dos poucos hits produzidos para vender milhões de unidades.

Importante destacar que o conceito de Cauda Longa se aplica a praticamente todo mercado, inclusive o mercado de mídia. Com a convergência digital, é muito provável uma reorganização na distribuição da audiência, não apenas por conta de alterações nas características dos meios e na maneira como são consumidos, mas principalmente por alterações no próprio comportamento do consumidor.

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Convido-os a assistir esta palestra em vídeo, apresentada por Chris Anderson, o autor do livro "The Long Tail". Aqui ele exemplifica de maneira esplêndida como o conceito da cauda longa pode ser aplicado a qualquer área da economia, nesse mundo de tecnologia e informação.



Agora, assista à esse vídeo, que apesar de já estar bem rodado pelo YouTube, vai ajudar a esclarecer o conceito. Este vídeo fala sobre a geração da internet, a nova economia eletrônica que está criando o mundo do consumo de bits. Conheçam o Rafinha...

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Profissões do futuro, ou o futuro das profissões? A era da informação entra em casa...

Este é um vídeo muito inteligente e bem feito do SEBRAE de São Paulo, que fala sobre a importância da educação para formar os profissionais do amanhã. O mais interessante é a discussão sobre as profissões do futuro. A maioria delas ainda nem existem, sendo assim, como faremos para que as pessoas estejam preparadas para entrar no mercado do amanhã? Só há uma maneira - através do empreendedorismo. Já sentimos os efeitos da necessidade dessa mudança cultural, pois muitas das profissões que já existem hoje (e que muitas vezes brigam inutilmente por regulamentação) não existiam a 5 ou 10 anos atrás. Peço uma atenção especial aos comentários do Professor Luiz Carlos de Menezes, do Intituto de Física da USP, sobre os efeitos de nossa herança social da era industrial. Este vídeo mostra que é preciso deixar de lado essa cultura mecanicista obsoleta (geração de empregos de baixa qualificação, produção em massa de produtos de baixo valor agregado, com o uso de baixa tecnologia), e entrar de cabeça na era da informação (da alta tecnologia e da criatividade). Mais um sinal da mudança de padrão civlizatório que está vindo pra ficar...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Subversão civilizatória: parte 2

Pra quem já viu o primeiro vídeo, do John Doerr:

Bom, passando agora para a apresentação de um novo modelo de civilização, que se baseia no modelo de consumo cradle-to-cradle (ou do berço-ao-berço), ou seja, uma economia de ciclos biológicos e tecnológicos fechados (closed loops). Veja como as idéias do arquiteto William McDonough sobre o design são as chaves para uma mudança rápida e segura para um mundo saudável e limpo. Chega de lamentação, pois o cérebro humano é tão poderoso e magnífico que é sem dúvida capaz de criar um mundo de abundância, e não de escassez. A revolução está em nossas cabeças. Estamos aqui para celebrar a criatividade humana, que é infinita. Recursos são diretamente proporcionais à criatividade. Sendo assim, tirem suas próprias conclusõs... Espero que gostem.

Subversão civilizatória: Parte 1

Primeiro, veja esta apresentação de John Doerr, um dos grandes nomes do Vale do Silício, que passou a enxergar um mundo de escassez, através de um apelo de sua filha de 15 anos. Ele diz que o mundo não vai longe se continuarmos neste nosso mesmo modelo de consumo "cradle-to-grave" (ou no bom portugês, do berço-à-cova). Faz uma discussão interessante sobre o poder e o papel de cada um dos compartimentos que compõem a economia: as empresas, os indíviduos e os governos. Ele deixa clara uma idéia de que é possível se canalizar energia a fim de se gerar uma força motriz para mudar o mundo... mas que nunca parece suficiente. Sob o meu ponto de vista está claro que ele ainda está tendo os primeiros insights sobre como essa revolução pode acontecer, e eu lhes digo, há esperança. Uma delas, discutida superficialmente neste vídeo, são as tecnologias verdes, ou greentechs.

Depois de assistir à essa palestra, veja o próximo vídeo, e fique um pouco mais tranquilo... Mas veja esse primeiro! Espero poder colocar esses conceitos em suas cabeças e corações...


terça-feira, 16 de outubro de 2007

Eco-design

O “triple-bottom-line” tem sido, e ainda continua a ser, uma importante ferramenta para integrar a sustentabilidade à agenda dos negócios. Balanceando os objetivos econômicos com as preocupações sociais e ambientais, ele cria uma nova medida da performance corporativa. Uma estratégia de negócios focada somente na linha de base, ou “bottom-line”, no entanto, pode mascarar as oportunidades de desenvolvimento de inovações e criar valor no processo de design. É preciso transformar a eficiência em efetividade. Para isso existem novas ferramentas de design sustentável, ou eco-design, que podem mudar o foco de nossa maneira de criar. Trata-se de uma mudança de um processo de desenvolvimento com propriedades “end-of-pipe*” limitantes, para um processo orientado para a criação de estruturas, produtos e serviços seguros e de alta qualidade, reprojetando tudo a partir do zero.

Esta nova perspectiva do design cria um crescimento do tipo “top-line”, ou linha-de-topo: estruturas, tecnologias, produtos e serviços que aprimoram o bem estar da natureza e da cultura humana, enquanto geram valor econômico. O design do tipo “top-line” segue as leis da natureza para dar à indústria e à agricultura ferramentas para desenvolver sistemas que geram prosperidade com segurança. Nesses novos sistemas humanos, os materiais se tornam comida para o solo (entram nos ciclos biogeoquímicos), ou podem fluir de volta para a indústria por todo o sempre (entram nos ciclos tecnológicos). Valor e qualidade estão incorporados nesses produtos, processos e facilidades de maneira inteligente, o que os possibilita deixar uma pegada ecológica para o deleite, ao invés da lamentação. Quando os princípios do design ecologicamente inteligente forem amplamente difundidos e aplicados, tanto a natureza quanto a economia podem prosperar e crescer.

*end-of-pipe: tipo de solução que não atinge a raiz do problema. Também conhecida como solução fim-do-tubo. Ex: Um determinado processo industrial gera um tipo de resíduo perigoso. A princípio, é mais fácil colocar um filtro na saída do tubo em que o resíduo é emitido, do que reprojetar todo o processo, ou pesquisar novas fontes alternativas de matéria-prima, para que não exista mais a possibilidade de geração de resíduos perigosos. Uma decisão end-of-pipe torna, aparentemente, as coisas menos ruins, mas não boas. O que fazer então, com o filtro contaminado?

domingo, 14 de outubro de 2007

Teorema de Coase


"Suponhamos que Dick tenha um cachorro chamado Spot, que late e incomoda Jane, vizinha de Dick. Dick obtém um benefício por ser dono do cachorro, mas o cachorro confere uma externalidade negativa a Jane. Dick deve ser forçado a se livrar de Spot ou Jane deve ficar noites sem dormir por causa dos latidos de Spot?

Considere primeiro qual resultado é socialmente eficiente. Um planejador social, considerando as duas alternativas, compararia o benefício que Dick obtém da posse do cachorro com o custo imposto a Jane pelos latidos de Spot. Se o benefício exceder o custo, para Dick será eficiente ficar com o animal e para Jane, conviver com o barulho. Mas, se o custo for maior que o benefício, Dick deverá se livrar do cão.

De acordo com o Teorema de Coase, o mercado privado chegará ao resultado eficiente por si só. Como? Jane poderá simplesmente oferecer a Dick um pagamento para que se desfaça do cachorro. Dick aceitará se a quantia de dinheiro que Jane oferecer for maior do que o benefício de ficar com o cachorro.

Negociando o preço, Dick e Jane poderão sempre chegar a um resultado eficiente. Suponhamos, por exemplo, que Dick obtenha um benefício de $500 por manter o cachorro e que Jane arque com um custo de $800 por causa do barulho. Neste caso, Jane poderá oferecer um pagamento de $600 para que ele se livre do cão e Dick aceitará alegremente. As duas partes estarão em melhor situação do que antes e o resultado eficiente será atingido.

É possível, naturalmente, que Jane não esteja disposta a oferecer nenhum preço que Dick queira aceitar. Suponhamos, por exemplo, que Dick obtenha um benefício de $1.000 por manter o cachorro e que Jane arque com um custo de $800 provocado pelos latidos do cão. Neste caso, Dick recusaria qualquer oferta abaixo de $1.000 e Jane não ofereceria nenhum valor acima de $800. Neste caso, Dick ficaria com o cachorro. Dados os custos e benefícios, contudo, o resultado é eficiente.

Até aqui, admitimos que Dick tenha, por lei, direito de ficar com um cão que late. Em outras palavras, admitimos que Dick fique com o cachorro a menos que Jane lhe pague o bastante para convencê-lo a se desfazer do animal voluntariamente. Mas em que mudaria o resultado se Jane tivesse, por lei, direito à paz e à tranqüilidade?

De acordo com o Teorema de Coase, a distribuição inicial dos direitos não afeta a capacidade que o mercado tem de atingir um resultado eficiente. Suponhamos, por exemplo, que Jane tenha o direito legal de forçar Dick a se livrar do cachorro. Embora ter esse direito seja vantajoso para ela, provavelmente não mudará o resultado. Neste caso, Dick poderia pagar a Jane para que ela lhe permitisse ficar com o cão. Se o benefício de ficar com o cão para Dick exceder o custo do latido para Jane, os dois chegarão a um acordo que permita a Dick ficar com seu animal.

Embora Dick e Jane possam chegar ao resultado eficiente independentemente da distribuição inicial dos direitos, essa distribuição não é irrelevante: é ela que determina a distribuição do bem-estar econômico. O fato de Dick ter o direito a um cachorro que late ou Jane ter direito à paz e à tranqüilidade é que determina quem paga a quem no final da negociação. Mas, em qualquer um dos casos, as duas partes podem negociar entre si e resolver o problema da externalidade. Dick só ficará com o cachorro se o benefício exceder o custo.

Resumindo: o Teorema de Coase diz que os agentes econômicos privados podem solucionar o problema das externalidades entre si. Qualquer que seja a distribuição inicial dos direitos, as partes interessadas sempre podem chegar a um acordo no qual todos fiquem numa situação melhor e o resultado seja eficiente."

MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. Tradução Allan Vidigal Hastings. 3ª edição. São Paulo: Thomson Learning, 2006.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Geotecnologia: ESRI Touch Table

Mais uma das maravilhas do mundo. E ainda não acharam o Bin Laden...



Conheça o Natural Step

O link abaixo é de um vídeo de uma palestra de 60 minutos proferida pelo idealizador do The Natural Step Framework, Dr. Karl Henrik Robert. Sua história e sua proposta são muito interessantes, e estão permeando o mundo corporativo na forma de uma revolução sileciosa...

The Natural Step Framework

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Regulamentação da profissão de ECÓLOGO

ATENÇÃO: ESSE TEXTO É DO ECÓLOGO RENATO FERREIRA LIMA, DA UNESP DE RIO CLARO, EU SÓ ESTOU DIVULGANDO...

A profissão de ecólogo está em processo de regulamentação junto ao congresso nacional, para finalmente juntá-los a um conselho profissional e atuar plenamente em suas atribuições, como já é feito atualmente, mas sem o devido reconhecimento legal.

Não se trata de um reserva de mercado pois a profissão tem caráter mais transversal e interdisciplinar, além de ser complementar em relação às demais profissões que já atuam no mercado de meio ambiente. Trata-se apenas da aquisição de direitos legais para que se possa exercer todas suas capacidades e competências.

Para dar seu apoio ao processo de regulamentação da profissão de ecólogo, convido-os a entrar no site do Conselho Regional de Biologia no qual há uma enquete (no canto inferior direito da página principal): "Voce é a favor da
regulamentacao da profissao de ecologo?" Selecione SIM e vote. O Brasil é um gigante em biodiversidade e precisa de profissionais capazes de assegurar sua proteção e seu uso sustentável.

Miragem urbana

Andando pela marginal do Rio Pinheiros, em pleno trânsito, tive a chance de sacar o meu celular e fazer essa foto. Um tanto surreal para a situação, mas é um começo. Os paulistanos estão acostumados a ver garças e capivaras alimentando-se ao longo das barrancas das marginais. Só que a cena do prédio das mega-companhias capitalistas ao fundo, o rio poluído, o controverso projeto-pomar e a placa de aviso: CUIDADO, animais silvestres, me fizeram lembrar do documentário "Developed landscapes", que fala dos paradoxos ambientais criados pelo capitalismo selvagem (aquele que faz tudo por dinheiro e que se dane o resto). Mas como ainda existe vida inteligente no planeta e, olhando com bons olhos, acho que essa paisagem pode ter o seu lado poético trazido para uma nova realidade. Leiam o livro Cradle to Cradle, de McDonough e Braumgart. O link pra comunidade está la lista de links do blog. Quem sabe um dia um veado-campeiro volte a saltitar pelo planalto paulistano como a plaquinha nos indica...

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Uma questão de DESIGN

Não há nada no mundo tecnológico hoje que não tenha sido criado por um designer. Design significa intenção. Nenhuma das grandes revoluções que aconteceram em nossas vidas nos últimos anos foram causadas por inovações tecnológicas, e sim, inovações no design. Veja o caso do iPod. Nenhuma das tecnologias embutidas no produto foram desenvolvidas especialmente para serem usadas no produto. Elas já existiam, só não tinham nunca sido usadas juntas, com um propósito. Simplesmente um designer pensou um jeito de uní-las num único aparelho, com a intenção de proporcionar entretenimento fácil e acessível a um grande público. Já existe massa crítica de conhecimento e tecnologia para que, através do design, possamos dar grandes saltos de qualidade na nossa vida e melhorar o mundo. Pense em design.

Imaginando o mundo sem o petróleo...

Procurem no YouTube filmes com as palavras "magnetic motor", "gavitational motor", "continuum mobile" e "free energy". Vocês verão o poder da informação fluindo através de um consciente coletivo... Acho que já podemos começar a nos prepararmos pra viver num mundo abundante em energia e absolutamente sem petróleo, hidrelétricas, agroenergias ou o que quer que seja. Conheçam o site da Steorn - www.steorn.com - que já possui um protótipo de moto-contínuo de energia livre. Abaixo um vídeo com um protótipo de motor movido a energia magnética (energia livre), o Modelo de Perendev. Einstein já dizia que era fisicamente possível se canalizar energia a partir de algo que pudesse concentrá-la através distorções dimensionais(???) e que a teoria da relatividade não poderia explicar tal processo. Infelizmente ele não descreveu nenhuma outra teoria, mas sabia que o processo envolveria as leis da atração entre os corpos. É isso que a Steorn conseguiu colocar em prática, e antes de lançar o modelo, convocou inúmeros cientistas do mundo inteiro pra pôr à prova e tentar explicar cientificamente o que acontecia... Como um motor poderia gerar mais energia do que consome???? E o processo é tão simples...


Brasileiros pondo ordem no chiqueiro

Olá a todos...
Dando início ao blogueirismo ainda um tanto acidentado, gostaria de iniciar uma discussão com vocês. Primeiro, gostaria de deixar claro que não sou um radical, e sim um empresário que tem uma clara visão de que o Brasil é a bola da vez - e que não dá pra se comer dinheiro (como disse o tal do índio americano). Estou farto dessa palhaçada que vemos todos os dias nos jornais e TV. Mas, vendo pelo lado bom, reconheço que a liberdade de expressão e o poder da mídia nunca foram tão efetivos - e democráticos. Se eu optei por viver num mundo farto em informação, que ela seja bem colhida e utilizada para o bem.

Sendo assim,gostaria de discorrer a respeito do trabalho do Instituto PNBE de Desenvolvimento Social. Trata-se de um grupo de empresários que se reúnem pra discutir questões relacionadas à governança, ética, tranparência, corrupção e responsabilidade. Esses caras estão peitando o governo e ajudando muito o Brasil. De suas reuniões saem muitos manifestos, discussões e iniciativas que colaboraram, inclusive, com o nascimento de instituições importantes como o Ethos, Akatu, Disk Denúncia, Transparência Brasil, Código de Defesa do Eleitor, Pacto Empresarial Contra a Corrupção, etc... O foco deles é a governança em empresas públicas e o combate à corrupção. Soube, em palestra recente, que o governo criou uma agência para a administração de estatais chamada CGPAR (às escuras), cheias de cadeiras para os ministérios, aonde a sociedade civil (acionistas não controladores das estatais) ainda não possuem uma única cadeira? É preciso fazer com que isto funcione, pois o governo não pode ser acionista, controlador e ao mesmo tempo, o criador de políticas. A concorrência com as empresas particulares se torna desleal, antiética. Veja o caso do setor energético brasileiro, todo emprerrado. Empresas de capital aberto (pulverizado) são mais democráticas e mais tranparentes. Essa agência precisa da presença de cidadãos, e o PNBE está lutando por isso.


Outros que estão pondo ordem no chiqueiro são os grupos de desenvolvimento do Índice de Governança Corporativa da Bovespa (ajudando as companhias brasileiras a entrarem na categoria de Novo Mercado). Após a implantação do IGC da Bovespa, em 2002, o valor das empresas brasileiras listadas na bolsa era de 124 bilhões de reais. Até 2007, esse valor subiu pra 1 trilhão e 130 bilhões de reais - ou seja, o valor do setor produtivo brasileiro já se equipara ao PIB brasileiro. E ainda: em 2007 foi a primeira vez na história do Brasil que o volume de investimentos e financiamentos de capital particular superou o volume de financiamentos e investimentos feitos pelo governo (principalmente via BNDES). Parece que estamos mesmo passando por um processo de subversão, e o Estado está sendo pressionado a fazendo o dever de casa. A democracia está mais forte. Estes dados estão disponíveis no próprio site da BOVESPA.

Abraço a todos e abaixo a CPMF.
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